segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Poesia - Açúcar e Afeto

Uma homenagem do poeta Ozzi Cândido

Açúcar e Afeto

Um canto da casa, uma almofada multicolorida
Um vaso de tulipas roxas, posto no meio da sala,
um vinho tinto fino.
Um doce para lambuzar crianças, em especial a
criança que reside dentro do adulto.
Uma olhadela pela vidraça, um aceno, um acorde
de piano...

Cheiro de chuva, algazarra de criança correndo casa
afora.
Alegrando a vida, confirmando a alma, pintando a noite.
Um retrato no porta-retrato da mesinha de cabeceira.
Um beijo tão doce que cheira a saudade, a memória
a re-memória.
Um binóculo encontrado na caixinha de bugigangas
da vovó.
Um bilhete de namoradinhos adolescentes mesmo que
a adolescência comece aos sessenta anos.
Um recadinho preso na geladeira, no criado mudo nos alertando
o regresso.
A vida em festejos, em fotos e fatos e fatias de bolos
coloridas de sol...

O menino que choraminga pelo lado de fora da vitrine
Pelo lado de dentro do mundo
A mãe que, mesmo apressada cede, e entra...
O menino se perde, a mãe se encontra
E encontros e despedidas são achados na caixinha de achados
e perdidos.
É a vida se exercendo, é o carnaval das pupilas e os pierrôs roxos
livres numa tela.
Lá fora chove, aqui dentro estia e a alma se lambuza no afeto mais
doce do pote.

Um canto secreto, de silêncio.
Uma historinha contada antes de dormir, um embalo no balanço
de final de semana.
Um conto de fadas e de homens que se apaixonam, uma lembrança
Um balão de festa solto no final da festa, uma plenitude.
Preciso, urgente, como apressada é a vida, voltar para o açúcar e o afeto
do álbum de fotografias das fantasias de criança.
Quando ninguém sabia quem sou, e hoje eu me encontro no que se espalha
no espaço.
É a vida, por uma vitrine num café à tardinha, enquanto a chuva se derrama e festeja.
Sei lá o que, sabe-se lá o que. São lágrimas de alegrias incontidas.



di Ozzi Cândido